Fazenda São José, de Tapiratiba, SP, uma das precursoras do agronegócio no país, produz 65 mil litros por dia e acaba de ser premiada com o Balde de Ouro da pecuária

Funcionário fiscaliza uma das ordenhas; volume de leite vai saltar de 65 mil litros por dia para 90 mil
Orostrato Olavo Silva Barbosa, mais conhecido pela junção do segundo nome com o sobrenome – Olavo Barbosa –, foi reeleito o maior e melhor produtor de leite do país, ganhando o troféu Balde de Ouro, que foi entregue no mês passado na Feira Internacional da Cadeia Produtiva do Leite (Feileite), realizada na capital paulista. Ele completou 87 anos de idade e, excluindo dez de trabalho como empregado numa empresa exportadora de café na década de 1940 do século passado, em Guaxupé, onde nasceu, 71 anos são dedicados “aos altos e baixos” da pecuária.
Olavo, tido por especialistas como um dos precursores do agronegócio leite no Brasil, recebeu a reportagem na fazenda, no dia 19 do mês passado, na companhia do neto, Sergio, de 34 anos, diretor da empresa e seu sucessor na condução da propriedade e dos negócios. A memória estava afiada. Ele discorreu sobre as dificuldades nos primeiros anos de atividade, quando, com gado gir “pé-duro” e ordenha manual, produzia apenas 70 litros ao dia; as viagens aos Estados Unidos e Europa em busca de novas tecnologias; as importações de vacas de alta lactação em aviões fretados e lotados; a construção de estábulos e silos cada vez maiores e melhor adaptados; enfim, sobre a sua epopeia de homem de origem simples ao hoje produtor de quase 2 milhões de litros de leite ao mês; tudo vinha à tona em detalhes. Ao final da prosa, Olavo desceu as escadas e se encaminhou ao galpão para a sessão de fotos ao lado das férteis vacas da raça holandesa. Ali estava em casa.
À vontade, mostrou o porquê de ser considerado o número 1 e, generoso, concordou em dar dicas aos iniciantes. “A pecuária de leite é cheia de momentos de crise e momentos bons, o que nos obriga a manter sempre o pé no chão. Muito capital não é sinônimo de êxito. Para vencer na atividade, é fundamental o aprendizado diário. Estar perto dos animais e ouvir os funcionários. Junto à dedicação extrema, são partes de meus segredos.”

Os bezerrinhos da raça holandesa consomem cerca de 1,8 mil litros de leite a cada dia na fazenda São José
Olavo Barbosa, que entregava o leite à indústria no ano em que iniciou a atividade – 1960, antes ele ajudava o pai na exploração do café com leite –, passou a pasteurizar e envasar na década de 1980, agregando valor. Surgiu então o leite Fazenda Bela Vista – em garrafa plástica, quando os leites pasteurizados eram vendidos em saquinhos, e cujos 50 a 55 mil litros ao dia são distribuídos hoje principalmente na Grande São Paulo, onde a empresa tem seu entreposto particular, e em outras regiões. No total, são feitas 2 mil entregas diárias. Dá 60 mil entregas ao mês em frota própria. Foi em 2005 que teve início o processo de fabricação de queijo parmesão, minas frescal, ricota, requeijão e iogurtes. “Destinamos de 10 mil a 15 mil litros de leite ao dia para os derivados. Assim, fechamos o ciclo, e toda a litragem é industrializada aqui mesmo”, informa o neto e agrônomo Sergio Ferraz Ribeiro Filho.
Ele “traz no sangue meu amor e a dedicação ao leite”, afirma Olavo. Segundo Sergio, não fossem a agregação de valor e a escala, a São José trabalharia no vermelho. “Os custos são altos. Uma vaca bebe 120 litros de água ao dia e come de 38 a 40 quilos de volumoso e concentrado para produzir 25 litros de leite.” Ele diz que vende o litro de leite a 2,20 reais e que os custos são altos. “Afora os derivados, comercializamos animais em leilões.” Sergio administra a fazenda junto com o avô e o veterinário Mauro Ribeiro, de 56 anos, que é diretor pecuário (sua carteira de trabalho registra 31 anos na São José). Olavo Barbosa conta que o projeto ganhou dimensão gigante e escala a partir de 1987, quando passou a funcionar o sistema free stall, que demorou quatro anos para ser instalado e foi o primeiro do país. “Era e continua sendo a última palavra em se tratando de tecnologia”, diz.
Nesse sistema, que Olavo conheceu na Califórnia, Estados Unidos, onde era usado pelas grandes propriedades leiteiras, e pelo qual desembolsou 2 milhões de reais, as vacas são inteiramente confinadas. “O free stall exige que se trabalhe com fêmeas de alta genética. Aqui, o rebanho é 85% de holandês PO (puro de origem) e 15% holandês PC (puro por cruza)”, explica Olavo. Como a proposta era fazer volume, ele trouxe dos EUA na ocasião embriões, sêmen e 300 novilhas holandesas. Foi ainda à Castrolanda, em Castro, buscar a boa genética do Paraná.

Olavo, 87 anos: leite e café são as paixões, mas a marca Bela Vista envasa também suco de laranja
E a São José cultiva meta de incrementar a produção. “A intenção é saltar dos 65 mil para 90 mil litros de leite ao dia, com 3 mil fêmeas em lactação, e ocupar toda a capacidade dos free stalls”, informa Sergio Ribeiro. Nessa trilha, Sergio adianta que de 1990 para cá o rebanho foi sendo “fechado”, ou seja, só incorporava cria da fazenda. Além disso, com o passar do tempo, aumenta o número de crias puras, pois as vacas PO são em maior quantidade, e as PC vão sendo afastadas. A fazenda faz inseminação artificial e transferência de embrião há décadas, e Sergio lembra que, há apenas cinco anos, o rebanho era 60% PO e 40% PC. Também há meia década eram efetuadas duas ordenhas ao dia – na comparação com as três atuais. “Meu avô nunca vendeu fêmeas visando ao aprimoramento do plantel, ao incremento na produção e à alta qualidade do leite.” A reposição gira em torno de 25% a 30% ao ano, e todo o rebanho é renovado a cada três ou quatro anos, num ritmo acelerado.

Sérgio, 34 anos, neto e sucessor, à frente do imenso bezerreiro coletivo
As gestantes são isoladas a cinco dias da parição, e os trabalhadores ficam em vigia permanente durante 24 horas. Às primeiras contrações, as fêmeas são transferidas para uma baia individual onde dão à luz. São entre 250 e 400 partos por mês, em média, informa Sergio. Segundo ele, após nascer, a cria permanece com a mãe por 12 horas, e nesse período a primeira mamada é de um colostro especial, de muita qualidade e que é congelado e pasteurizado. “Garante imunidade alta.” Separado da mãe, o filhote é encaminhado a um bezerreiro individual, e a dieta é reforçada à base de cinco litros de leite ao dia, ração peletizada e água. Aos 60 dias de vida, entram no bezerreiro coletivo agrupados em lotes de 22 a 25. “É um local amplo. Suas instalações são funcionais, os corredores facilitam a limpeza, e os animais têm espaço”, explica o agrônomo.
Nessa idade, a bezerrada começa a comer feno de tifton à vontade e palha de arroz é empregada como cama. Depois de 180 dias, esses animais – eram 400 no mês passado – saem para os piquetes e passam a comer no cocho. As fêmeas vão para a cria, e os machos são abatidos. Já com 330 quilos e entre 13 e 14 meses de idade, elas são inseminadas. “A maturidade sexual é atingida cedo”, afirma Sergio. Numa área de 500 hectares, é plantado café para exportação. Leite e café são as paixões de Olavo Barbosa. Em 1970, ele fundou a Exportadora de Café Guaxupé e, junto com sua família, possui dez fazendas cafeeiras. Agrega ainda produtos como o suco de laranja Bela Vista, que é muito conhecido.

As salas onde as vacas são ordenhadas - 275 animais a cada hora - têm controle computadorizado
Sergio diz que há anos a São José efetiva ações voltadas para a preservação do meio ambiente. As 40 toneladas diárias de esterco produzidas pelo dejeto dos animais, por exemplo, são decantadas em tanques que reaproveitam também 1 milhão de litros de água. A parte líquida formada vai fertirrigar, por meio de pivôs centrais, as lavouras de milho. “O Rio Guaxupé, que passa pela propriedade, fica protegido dos dejetos,” afirma Sergio.

Linha de produção do leite Fazenda Bela Vista: 55 mil litros são distribuídos em SP e outras regiões

As vacas prenhas são vigiadas durante 24 horas a cinco dias da parição
Produção de leite – 65 mil litros/dia Vacas em lactação – 2.430 cabeças Média de produção/vaca/dia – 26 litros Consumo de silagem e feno – 135 toneladas/dia Consumo de água – 900 mil litros/dia Produção de esterco – 40 toneladas/dia Rebanho total – 6 mil animais Mão de obra – 56 funcionários Leite consumido pelos bezerros – 1.740 litros/dia |
Nenhum comentário:
Postar um comentário