John Deere

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A força do campo

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Fazenda Sao Joao

Jeito certo

Fazenda São João/True Type, de Inhaúma, MG, investe na profissionalização e na gestão de recursos humanos para ganhar em produtividade e elevar a rentabilidade


João Marcos Rosa
FLÁVIO GUARANI, dono da São João, administra a propriedade em parceria com especialista em gestão de RH
Em apenas oito anos, Gilson Estaquino São José saiu do cargo de “auxiliar do auxiliar de sanitarista”, como ele mesmo diz, e se tornou gerente de plataforma (ou de produção) de uma operação de grande porte, que envolve a produção de cerca de 12 milhões de litros de leite por ano, 30 mil litros por dia e um rebanho de 3.200 animais, dos quais 1.600 em produção.

Gilson chefia os três turnos de ordenha mecanizada da Fazenda São João/True Type, de Inhaúma, MG, a 80 quilômetros de Belo Horizonte. Mas só agora está cursando a oitava série do ensino fundamental. Consciente do tipo de empresa em que trabalha – referência na produção de leite e idealizada, desde o primeiro momento, como um projeto de longo prazo com atenção especial à gestão dos recursos humanos –, ele colocou na cabeça não parar na posição em que está.

Ao contar a própria história, ele ilustra as oportunidades e os desafios de quem trabalha ali. “Quando fui contratado, em 2002, não era um profissional qualificado, apesar de ter trabalhado em outras fazendas. Mas existe na companhia um empenho para que os funcionários aprendam e cresçam. Comecei como auxiliar de sanitarista, fui promovido a gerente da área, depois a gerente da produção no turno da noite e, em seguida, no diurno e, hoje, sou gerente de plataforma”, explica, ressaltando que isso implicou não só em crescimento profissional, mas também pessoal. “Fiz vários cursos técnicos e de gestão oferecidos pela empresa, buscando aplicar o aprendizado no dia a dia e aprender sempre mais.”


João Marcos Rosa
GILSON ESTAQUINO, gerente de produção, foi admitido como auxiliar de sanitarista e passou por cinco posições até assumir a atual
Boa parte de seu aprendizado Gilson adquiriu, de fato, na Fazenda São João. No local, além de escola para alfabetização e cursos supletivos para adultos – como o que ele frequenta –, são oferecidas capacitações técnicas e também teóricas voltadas à profissionalização, como a de motivação e crescimento pessoal ou de gestão rural, entre outras da área administrativa.

“Mas acho que a grande diferença é oferecer chance de crescimento aqui dentro. Se surge uma nova vaga, tentamos sempre preenchê-la com quem já é funcionário. Eu mesmo cheguei aqui como recém-formado em veterinária e, neste mês, fui promovido a gerente-geral”, conta o veterinário Paulo Henrique Garcia, que também trabalha na fazenda há oito anos e comemora sua trajetória ascendente no organograma da empresa – fato comum tanto para os funcionários de maior escolaridade como para os menos graduados. “O que conta aqui é o desempenho e a vontade de crescer e aprender”, afirma.

Quem se despede da São João/True Type tampouco perde seu valor dentro da fazenda. Um de seus mais antigos funcionários, que a deixou para buscar novas chances no mercado, Milton Amaral foi homenageado dando seu nome ao refeitório da empresa. Um espaço bem característico, que mistura o clima corporativo com o “jeitinho” mineiro de conviver e no qual nunca falta comida caseira e quente nas panelas e a opção de um ovo frito na hora, seja para gerentes mais destacados ou auxiliares.

Terceira maior produtora de leite do Brasil e primeira em Minas Gerais, a fazenda de 90 empregados não tem seu segundo nome por acaso. “True type significa fazer a coisa certa”, lembra Gilson nas palestras ministradas para grupos de visitantes, produtores e associados de cooperativas de todo o país, além de estudantes, que quase todos as semanas são recebidos na propriedade.


João Marcos Rosa
PAULO HENRIQUE GARCIA, gerente-geral, ingressou na empresa há oito anos, quando era recém-formado
O proprietário da São João/ True Type, Flávio Batista de Noronha Guarani, administra a empresa com a esposa, Huguette Emilene, e mantém uma bem-sucedida parceria com o especialista em gestão de RH Clóvis Correa na administração do negócio. Flávio enfatiza que “desde o início a fazenda foi pensada como um projeto bem estruturado e planejado para dar atencão especial às pessoas, porque da motivação e empenho delas depende o sucesso da produção”.

De acordo com Flávio, a filosofia da empresa é a de que “o sucesso de qualquer ação depende de sua execução, e esse é o motivo principal para buscar sempre o conhecimento sobre como se relacionar, a motivação e o crescimento pessoal, independentemente do cargo que se ocupe”, diz ele.

Na São João, não importa se um funcionário é auxiliar, ordenhador, gerente ou administrador. Sua atuação precisa ser pautada pela vontade de fazer certo, produzir mais e crescer. A estrutura profissionalizada e focada na produtividade, comum no meio urbano, e cada vez mais valorizada entre empresários rurais, é apenas um dos aspectos da gestão da empresa. Toda a implementação da fazenda, da escolha do terreno à introdução dos animais, seguiu uma sequência semelhante a de uma indústria que, primeiro, providencia as instalações para só então iniciar a produção.

O projeto, diz Flávio, foi iniciado em 1994. “Naquele ano comecei a procurar o local ideal para a produção de leite. Eu queria o pé de acordo com o sapato e consegui. Precisava de uma área próxima aos grandes centros consumidores, ‘na beirada’ do asfalto, com potencial para agricultura e capacidade de aumento de produção agrícola e pecuária.” Ele lembra que, primeiramente, uma equipe de agrônomos e especialistas em gestão iniciou a produção de matéria-prima para a alimentação do plantel. “Depois cuidamos das estruturas físicas, e só então entrou o rebanho. Quase dois anos após o início das obras, nasceu nosso primeiro bezerro”, recorda o proprietário. A propriedade, entretanto, está longe de ser uma obra acabada. “Como qualquer grande empresa, a nossa é uma estrutura dinâmica, com planos de crescimento e desafios constantes”, diz.

A implantação dos cultivos na fazenda foi feita para dar suporte à atividade leiteira. “Começamos com a soja para corrigir o solo, típico de Cerrado, e depois passamos para milho, sorgo, aveia e outras culturas e para pastos plantados com tifton. Só com o projeto agrícola executado demos início à compra, em 2002, do rebanho de gado holandês e começamos a trabalhá-lo com inseminação e transferência de embriões, para agilizar o processo de melhoramento genético”, explica o veterinário Clóvis Correa, diretor da consultoria Rehagro (leia Organograma da Fazenda São João), que participou de toda a formação dos rebanhos.


Revista Globo Rural 
Hoje, a fazenda conta com 1.170 hectares, dos quais 400 ocupados com as culturas agrícolas. A empresa também conta com uma usina de tratamento de dejetos cujo produto final é o adubo orgânico (usado na propriedade e vendido para terceiros), uma fábrica de ração, silagem para 22 mil toneladas e dois tanques de refrigeração com capacidade total de armazenamento de 40 mil litros de leite por dia. “Devido aos maiores índices de mastite no rebanho, que reduziu a produção de 15 milhões de litros, em 2008, para cerca de 12 milhões estimados para este ano, montamos recentemente um laboratório para testes de monitoramento e controle da doença”, conta Garcia. O rebanho é mantido em semiconfinamento e há ainda a área de reserva legal, equivalente a 25% do total.

Entre as metas da empresa está a de elevar sua produção atual. “Estamos num processo de crescimento e readequação constantes”, ressalta Flávio, afirmando que a companhia pretende alcançar a marca de aproximadamente 50 mil litros por dia. “Uma empresa precisa ser dinâmica e buscar sempre seus objetivos e metas. Se hoje produzimos 13 milhões de litros, sabemos que podemos chegar a 16 milhões em um determinado prazo, desde que planejemos esse crescimento”, analisa.

Os planos ambiciosos da fazenda São João/ True Type não “arranham” o princípio de dar atenção especial à gestão de sua equipe e ir além do cumprimento de determinações da legislação trabalhista, como carteira assinada, férias, décimo terceiro, FGTS e demais direitos legais.

“Eu ingressei aqui há três meses e meio como aprendiz, com todos os direitos de um estagiário e a obrigação de continuar os estudos. Meu pai é gerente e começou em 2003 como sanitarista. Meu início vai ser aprendendo as técnicas de desmame”, conta o auxiliar de recria Lucas Gourlart da Silva, 15 anos, filho do gerente da maternidade, Claudinei Silveira da Silva, e aluno da oitava série do primeiro grau. “Apesar da posição de meu pai, não tive coragem de falar de emprego para ele. Mas, como eu tinha muita vontade de trabalhar aqui, porque gosto do campo e de mexer com animais, acabei pedindo ao Gilson uma chance para mim”, diz.

Pediu, foi avaliado como qualquer candidato a uma vaga e aprovado. Se, no futuro, vai se graduar em alguma profissão da área, Lucas ainda não tem certeza. Sabe que gosta do que faz, lidar com bezerros, dar-lhes a mamadeira e induzir o desmame, e que está aprendendo rápido. “Mas, se eu decidir ser veterinário ou seguir carreira, aqui mesmo poderei ter chances de crescer, como meu pai e os colegas dele”, afirma.


ASSOCIAÇÕES E PARCERIAS
Da mesma forma que valoriza a gestão de recursos humanos, a São João/True Type tem uma rede de associações e parcerias. Exemplo disso é a consultoria ReHAgro, um bem sucedido empreendimento com sede em Belo Horizonte e cursos presenciais em onze estados. A iniciativa nasceu do próprio projeto da São João, numa aliança entre os irmãos Clóvis e Fábio Correa e o produtor Flávio Guarani. Ao passo em que estruturavam a fazenda, os três se deram conta de que havia um mercado praticamente inexplorado no ensino e qualificação de recursos humanos para o meio rural.

Fundada em 2001, a ReHAgro é uma empresa de treinamento, capacitação e especialização de pessoas no agronegócio. “Atuamos tanto com cursos presenciais para diversos segmentos da área, como em educação à distância, cursos de pós-graduação e especialização, simpósios, assistência técnica e gestão de empresas rurais”, explica Clóvis Correa, administrador da São João e sócio da ReHAgro.

Da experiência das duas empresas, surgiu uma terceira empresa do grupo, a Ideagro, especializada em softwares de gestão rural. Os sócios também perceberam, há cinco anos, que a experiência da São João era sua maior vitrine. Por isso, criaram o Dia de Campo da Fazenda São João, realizado todos os anos no começo de outubro e que recebe cerca de dois mil visitantes para palestras, workshops e visitas à propriedade.

A companhia também estabelece parcerias comerciais com fornecedores e até com seu grande cliente, a Cooperativa Itambé, compradora de toda a produção da São João. Com estes grupos, a ReHAgro mantém uma política de marketing para divulgação das atividades, em outdoors e displays vistos tanto nos Dias de Campo como pelos visitantes periódicos da fazenda. “Se a relação é produtiva e boa para todos, todos ganham”, explica Flávio Guarani, dono da São João.

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