O professor Wilson Schmidt retornou a Santa Rosa de Lima, SC, para fazer do município uma referência em agricultura orgânica e lugar onde os jovens podem ser bem-sucedidos no campo

Wilson Schmidt fundou a Agreco, associação que abriu negócios e perspectivas para agricultores catarinenses
Formado em filosofia, desistiu do sacerdócio e partiu para a carreira de professor no norte do país. Quando retornou ao Sul, concluiu o doutorado e depois tornou-se diretor do Centro de Educação da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). “A mãe não pode se queixar que não estudei”, brinca. Mas a vontade de voltar para seu lugar de nascimento nunca se desfez. Ele mantinha a convicção de que algum dia iria retribuir a sua cidade as chances que teve na vida. A promessa começou a ser cumprida há 15 anos, prazo suficiente para que ele retirasse Santa Rosa de Lima das estatísticas do êxodo rural. O município é um dos poucos lugares a registrar crescimento populacional no estado, com 2 mil habitantes (eram 1.700 no passado). Todas as sextas-feiras, Wilson Schmidt deixa a universidade e enfrenta os buracos da estrada de terra que o leva a sua cidade. Já deu carona para muita gente, estudantes de agronomia e educação, professores daqui e de fora, interessados em ver o projeto que transformou o município na capital da agroecologia e sede da Ecocert, certificadora francesa de alimentos orgânicos. A mudança surgiu a partir da fundação da Associação dos Agricultores Ecológicos das Encostas da Serra Geral (Agreco), que abrange oito municípios vizinhos. Ela permitiu que os agricultores abandonassem a fumicultura e partissem para uma produção escoada para todo o Brasil, no caso de méis, geleias, conservas e molhos de tomate. As 300 famílias associadas dão conta de uma produção de 750 toneladas de alimentos por mês, compostos de itens processados, hortaliças variadas, frutas, frangos e ovos vendidos em Florianópolis por meio de cestas. “Fazemos entregas três vezes por semana”, informa Egidio Locks, responsável pelo comércio na capital.

Santa Rosa de Lima não faz mais parte das estatíticas de êxodo rural
As mudanças possibilitaram que o agricultor, de 31 anos, se formasse em administração de empresas e imprimisse um caráter de negócio ao sítio. Ele representa a nova geração de produtores, que lota um ônibus durante a semana para estudar à noite nas universidades da região. Na pequena Santa Rosa, eles têm internet gratuita para se conectar com o mundo. Feijão, apelido do xará de Wilson Schmidt, vê na prática as teorias de desenvolvimento rural sobre as quais discorre nas aulas da UFSC, onde também é professor. Ele desenvolve um curso de extensão local com os alunos da agronomia. E não se surpreende quando recebe visitas internacionais que se impressionam com a quantidade de jovens no campo. “Aqui se faz oposição à tendência da saída da juventude do meio rural em todo o mundo”, analisa.

As geleias são um dos 50 itens da Agreco
Wilson Schmidt sabe que seu projeto deu certo porque pode contar com bons parceiros, como Adilson e Feijão. O professor só não aceita que classifiquem o trabalho que lidera como uma ajuda aos habitantes de Santa Rosa de Lima. Para ele, o programa ali implantado é um reencontro com seus vínculos com a terra. E o Rio do Meio, comunidade onde está situada a propriedade da família, é seu futuro. É ali que pretende construir uma casa para viver com o filho Vinícius e ficar mais perto da mãe.
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